Em uma iniciativa que marca o reconhecimento formal da crise que assola a segurança pública brasileira, o Senado Federal, sob comando de Davi Alcolumbre (União-AP), anunciou nesta quarta-feira (29) a instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito do Crime Organizado (CPI) para a próxima terça-feira (4). A comissão terá como objetivo investigar a estruturação, a expansão e o funcionamento das facções e milícias que atuam no Brasil, com ênfase especial nas regiões conflagradas.
A decisão surge no rastro da denominada Operação Contenção, deflagrada no dia 28 de outubro de 2025 nas favelas do Complexo da Penha e do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, que terminou com um balanço oficial de 119 mortos — 115 civis, segundo o governo do Estado, e quatro policiais — e cerca de 113 prisões.
O que motivou a CPI
A recente megaoperação evidenciou o grau de controle crescente das organizações criminosas sobre territórios e populações. O secretário de Polícia Civil do Estado do Rio, Felipe Curi, classificou as pessoas mortas como “narcoterroristas” e afirmou que “a ação do Estado foi legítima” — uma declaração que gera controvérsias diante das graves denúncias de violência e execução.
Segundo Alcolumbre, “a proteção da população é prioridade, e o Estado brasileiro precisa atuar de forma coordenada contra a violência que ameaça o país”.
A CPI, segundo o anúncio oficial, terá como foco:
Mapear a estrutura interna das facções e milícias, suas linhas de comando, articulações políticas e econômicas.
Apurar as áreas de atuação desses grupos na cadeia do crime — tráfico, armas, explosivos, lavagem de dinheiro.
Estabelecer responsabilidades institucionais e políticas — quem permite, quem lucra, quem se omite.
Este movimento do Senado assume um caráter simbólico forte: reconhecer que a crise da segurança pública não é apenas local ou episódica, mas estrutural — efeito colateral de anos de omissão, permissividade e expansão do crime organizado. Ao convocar uma CPI, o Congresso sinaliza que elevará o debate para nível nacional e, em tese, buscará compromisso interinstitucional.
Porém, a eficácia de comissões desse tipo costuma depender da vontade política real, da independência dos membros e da pressão da sociedade. Dado o histórico de omissões e de conivência em determinados governos, há ceticismo sobre se haverá resultados concretos ou se o ato se limitirá a retórica.
Além disso, a CPI ocorre em meio a uma ofensiva midiática e política sobre a segurança — pauta cara à direita nacionalista, que defende linha dura contra o crime e critica governos que consideram “linha frouxa”. A manobra surge também como reflexo de uma narrativa de crítica à esquerda, que acusa de passividade ou permissivismo frente ao avanço do crime organizado.
Entre os grandes obstáculos da iniciativa estão:
Transparência dos trabalhos: para que a CPI não seja mero espetáculo, é necessário que as investigações sejam públicas, com reposição dos resultados à sociedade.
Alcance real: as facções criminosas possuem capilaridade e ramificações que atravessam estados, esferas municipais, forças policiais e até setores políticos. Conter isso exige articulação entre estados, União, Ministério Público e Poder Judiciário.
Proteção e integridade das investigações: tanto os investigadores quanto as testemunhas e os denunciantes estarão sob risco — milícias e narcotráfico já demonstraram capacidade de intimidação.
Medidas concretas de consequência: investigar é importante, mas se ao final da CPI não vier


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