Uma aeronave VC-2 da Presidência da República decolou às 19h32 desta segunda-feira, 30 de outubro, de Brasília rumo ao Egito. Na bagagem, 1,5 tonelada de alimentos destinados à população da Faixa de Gaza. Os alimentos foram oferecidos pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST).
O VC-2 vai substituir outra aeronave presidencial de mesmo porte que está no Cairo há duas semanas, mas tem manutenção programada no Brasil agendada para os próximos dias e precisa retornar. Assim, após concluir a entrega dos alimentos, o avião que decolou nesta segunda do Brasil ficará à disposição no Egito para repatriar o grupo de brasileiros que aguarda a abertura da fronteira em Gaza.
O carregamento enviado é destinado à assistência humanitária da população na região da Faixa de Gaza. A carga é composta de arroz, açúcar, derivados de milho e leite e partiu do Brasil com destino ao Egito, onde será entregue às autoridades responsáveis por transportá-la até Gaza.
Essa é a segunda missão da Operação Voltando em Paz em que houve envio de itens de assistência humanitária. A primeira foi realizada em 18 de outubro, quando o VC-2 pousou no Aeroporto Internacional de Al-Arish, no Egito, com equipamentos de filtragem de água e kits de saúde.
A carga continha 40 purificadores de água com capacidade de tratar mais de 220 mil litros por dia. Com tecnologia e fabricação brasileiras, os equipamentos são capazes de remover 100% de vírus e bactérias da água. O acesso à água potável é uma das maiores dificuldades enfrentadas hoje pela população da Faixa de Gaza.
Além disso, foram desembarcados dois kits de saúde. Cada um atende até 3 mil pessoas ao longo de um mês. Eles são compostos por medicamentos e insumos, como anti-inflamatórios, analgésicos, antibióticos, além de luvas e seringas. Ao todo, são 48 itens em cada kit, com um total de 267 quilos de materiais.
O material, após ser conferido pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros do Egito, foi entregue ao Crescente Vermelho, movimento humanitário não vinculado a qualquer Estado e fundado em Genebra, na Suíça, em 1863, que assumiu a responsabilidade de coordenar a logística de transporte, o cruzamento da fronteira e as entregas em Gaza.
ANSIEDADE – Atualmente, um grupo de cerca de 30 brasileiros aguarda a abertura da fronteira de Gaza com o Egito para ser repatriado para o Brasil. De acordo com o embaixador Alessandro Candeas, responsável pela representação do Brasil em Ramala, na Cisjordânia, a crise humanitária tem se intensificado e a situação nas cidades de Khan Yunis e Rafah, onde estão os brasileiros, é preocupante.
“Estamos lutando para que os brasileiros não sejam afetados pela catástrofe humanitária que assola Gaza. Alugamos casas e conseguimos enviar recursos para que comprem alimentos, água, gás e remédios no precário mercado local. Estamos oferecendo apoio de psicóloga e médico a distância. Infelizmente, as perspectivas são de rápida degradação das condições de vida e segurança”, afirma Alessandro Candeas.
A expectativa do Governo Federal é que a fronteira com o Egito possa ser aberta o quanto antes para que os brasileiros possam chegar ao Cairo de onde embarcarão para o Brasil em mais um voo da Operação Voltando em Paz. “Os brasileiros têm que ser autorizados a sair o mais rápido possível pelas partes envolvidas, para retornarem a salvo ao Brasil”, ressalta o embaixador.
1.413 REPATRIADOS – Até aqui, a operação Voltando em Paz do Governo Federal já garantiu o retorno seguro de 1.413 passageiros, em oito voos vindos de Israel comandados pela Força Aérea Brasileira. Do total, 1.410 eram brasileiros e três eram bolivianas, além de 53 animais de estimação.
ARTICULAÇÃO – A diplomacia brasileira e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva seguem diretamente envolvidos em tratativas para garantir ajuda humanitária na região, por negociar um cessar-fogo e para possibilitar a abertura da fronteira para que brasileiros, outros estrangeiros e civis que queiram se afastar da zona de conflito tenham essa possibilidade.
O Brasil preside em outubro o Conselho de Segurança da ONU e tem atuado de forma reiterada para tentar aprovar uma resolução consensual que ajude a levar ao diálogo e à paz na região. Nesta segunda-feira (30/10) mais um passo nesse processo foi dado, com mais uma reunião de emergência para tentar buscar esse consenso.
Desde o início do conflito, em 7 de outubro, o presidente Lula já teve diálogos por telefone com dirigentes dos Emirados Árabes Unidos, de Israel, da Palestina, do Egito, da França, da Rússia, da Turquia, do Irã, do Catar e do Conselho Europeu.
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, também se envolveu em diálogos com os chanceleres de Israel e Egito, responsáveis pela fronteira. “A questão está sendo tratada no nível político máximo. A plena abertura de um corredor humanitário pela ONU deve contribuir. Há centenas de estrangeiros na mesma situação dos brasileiros”, frisa Candeas.