Comando Vermelho se ergueu no cárcere e bebeu nas fontes da esquerda
No calabouço da repressão e da miséria do sistema penitenciário fluminense, nasceu o que hoje é uma das organizações criminosas mais poderosas do Brasil: o Comando Vermelho (CV). A gênese não se deu na favela, como muitos imaginam, mas sim dentro dos muros de presídios, onde presos comuns conviveram com esquerdistas condenados na era da ditadura militar — e dessa convivência brotou o embrião da facção. Nos anos 70, mais precisamente por volta de 1979, no Instituto Penal Cândido Mendes, na ilha de Ilha Grande (RJ), presos comuns, envolvidos em roubos, assaltos e crimes diversos, hospedavam juntos presos políticos — de esquerda, que haviam sido enquadrados pela Lei da Segurança Nacional. Essa mistura criou um caldo de cultura em que ideias de guerrilha e de organização coletiva transbordaram para o mundo do crime. Foi desse ambiente que emergiu, primeiro, a Falange Vermelha — espécie de célula embrionária — que mais tarde se reorganizou e deu origem ao Comando Vermelho. A mão esquerdista no berço criminoso De acordo com vários estudos, os presos políticos da ditadura, detidos em unidades como a de Ilha Grande, costumavam trazer conceitos de coletivização, de resistência ao Estado, de “camaradagem” entre presos . Esse know-how não permaneceu restrito ao universo político: logo foi apropriado por criminosos comuns, que enxergaram nessa fraternidade detenta uma vantagem estratégica. O “vermelho” no nome do CV não foi mera coincidência ou marketing: era uma homenagem — simbólica ou direta — à presença dos presos políticos esquerdistas. Da proteção intra-presídio ao crime organizado A “organização” interna do presídio tinha antes que tudo um objetivo: autoproteção. Entre condições degradantes, torturas, superlotação e abandono, os presos vislumbraram que estariam mais seguros agrupados, com hierarquia própria, comissão interna, divisão de tarefas — tudo “emprestado” da lógica militante e adaptada ao crime. Com o tempo, o CV se profissionalizou: deixou de atuar apenas no cárcere e migrou para fora — tráfico de drogas, roubos, assaltos, controle territorial nas favelas — e estabeleceu um código interno, solidariedade, punindo delações e traidores, imitando partes da guerrilha e da esquerda radical. A ruptura entre ideal político e negócio criminoso Importante destacar que, apesar da origem “inspirada” pela esquerda, o CV nunca operou como uma organização ideologicamente de esquerda. Muito pelo contrário: o que prevaleceu foi o capitalismo do crime, o “lucro rápido”, o tráfico, a expansão violenta. Ou seja: as práticas foram herdadas da esquerda, mas o fim foi o oposto dos ideais revolucionários. O paradoxo nacional Assim, o Brasil de hoje enfrenta um paradoxo: a esquerda que tanto lutou contra o Estado autoritário no passado — e deu à luz, ainda que involuntariamente, a organizadores de poder paralelo — agora paga o preço simbólico e real desse legado preso-político-presídio-crime. Conclusão O Comando Vermelho é, portanto, fruto de um ambiente onde o Estado falhou — presídios que eram “escolas do mal” onde se ensinava organização, solidariedade e rebeldia — e onde a esquerda, em busca de direitos e liberdade, acabou cedendo terreno para que ideias fossem cooptadas pelo crime. A estrutura da facção mostra mãos esquerdas, mas opera com punhos do crime. Se o Brasil deseja romper essa cadeia histórica, precisa começar por reformar presídios, separar presos políticos de criminosos comuns, mudar o discurso de “direito humanitário” que permite a cultura do cárcere virar escola de crime organizado, e encarar a verdadeira raiz de poder paralelo que nasce dentro da prisão.


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