A complexa rede financeira que sustenta os negócios do banqueiro Daniel Vorcaro passou a ser detalhada com mais profundidade com a revelação envolvendo o fundo Hans 95. Documentos de investigação mostram como uma estrutura de fundos fechados e interligados dificultava rastrear a origem e o destino de aportes bilionários ligados ao empresário. As informações foram publicadas pelo UOL, que teve acesso a documentos de investigação fiscal e judicial. A maior parte dos investimentos relacionados ao Hans 95 não ocorria diretamente, mas por meio de outros veículos controlados pelo fundo, criando uma estrutura de cascata semelhante à já identificada na Operação Carbono Oculto, que apura lavagem de dinheiro associada ao PCC. Com patrimônio próximo de R$ 35 bilhões, o Hans 95 deixou de enviar declarações obrigatórias à Receita Federal desde 2022, além de não entregar auditorias à CVM entre 2022 e 2024 — embora essas avaliações sejam mandatórias. Na última análise, realizada em 2021, os auditores se abstiveram de emitir opinião por falta de dados suficientes. Para os investigadores, essa opacidade pode ter servido para inflar artificialmente o patrimônio de empresas ligadas a Vorcaro. Uma decisão judicial que embasou buscas na Operação Compliance Zero aponta que o Banco Master ofertava ao mercado títulos sem lastro, emitidos por empresas de fachada controladas pelo próprio banco. Apesar de a decisão não citar o Hans 95, a Carbono Oculto ou a gestora Reag, o modelo de investimentos em cadeia se repete. Aportes bilionários em títulos do Banco Master Um dos eixos identificados envolve a compra de ativos do Banco Master pelo Hans 95 e fundos sob seu controle. Em outubro de 2024, o próprio Hans 95 registrou R$ 124 milhões em CDBs do Master. A estrutura se aprofunda com fundos subordinados: o Astralo 95 detinha R$ 622 milhões em títulos do Master em março de 2025, sendo 95% de suas cotas controladas pelo Hans 95. Desse total, R$ 436 milhões estavam em CDBs e R$ 186 milhões em crédito privado. Outro fundo ligado ao grupo, o Murren 41, detinha R$ 103 milhões em CDBs do Master em junho de 2024. Somados, os veículos financeiros movimentaram ao menos R$ 849 milhões em títulos do banco desde o ano passado. Investimentos na empresa dona da casa de Vorcaro A investigação também aponta que o Hans 95 é o principal investidor, ainda que de forma indireta, da empresa proprietária da mansão de alto padrão onde Vorcaro vive em Brasília. Quatro níveis abaixo do fundo está o Termopilas, que tinha mais de 90% de suas cotas pertencentes ao Hans 95 em junho de 2024. O Termopilas concentrava R$ 1,65 bilhão em ações da Super Empreendimentos, dona do imóvel. A Super comprou a casa — de 1.699 metros quadrados — por R$ 36,1 milhões em junho de 2024. A empresa é uma sociedade anônima fechada e não divulga seus proprietários. Entre 2021 e julho de 2024, o diretor da Super foi Fabiano Zettel, cunhado de Vorcaro. Ele afirmou, em nota, ter deixado o cargo antes de o Hans 95 aparecer como investidor, mas dados da CVM analisados pelo UOL indicam que o fundo já era o principal cotista indireto no mesmo período. R$ 1 bilhão em empresa ligada ao banqueiro Outra empresa associada a Vorcaro, a Akka Empreendimentos, também recebeu aportes bilionários indiretos do Hans 95. O Murren 41 investiu R$ 1 bilhão em ações da Akka — valor muito acima do capital social declarado pela empresa, de R$ 31 milhões. Desse total, R$ 28 milhões foram aportados em 2022 pelo próprio Vorcaro e por seu então sócio, Augusto Lima, que também foi preso. A Akka não possui registros públicos de atividade, assim como a Super. Ambas são sociedades anônimas fechadas. A defesa de Augusto Lima afirmou que as operações investigadas são posteriores à sua saída do Banco Master, em 2024. Ligação com a compra do Atlético-MG Segundo o Estadão, o Hans 95 também tem relação com o fundo utilizado por Vorcaro para adquirir parte do Atlético Mineiro. O Astralo 95 era o principal cotista do fundo Galo Forte FIP, veículo utilizado na operação. Em março de 2025, o fundo tinha R$ 300 milhões investidos no clube. Transferências e elo com suspeito ligado ao PCC A investigação da Receita Federal apontou que o Hans 95 recebeu R$ 17 milhões, em 2023, da esposa de Mohamad Hussein Mourad, suspeito de integrar o PCC — acusação negada pela defesa. O fundo também recebeu R$ 45 milhões do BK Bank, instituição investigada por lavagem de dinheiro. Além disso, o Hans 95 alocou recursos em outros dois fundos que, segundo a Polícia Federal, seriam controlados por Mohamad: o Gold Style e o Mabruk II. Ambos recebiam e enviavam valores via BK Bank. Relatório da Receita Federal afirma que o patrimônio do Mabruk II estava concentrado em debêntures emitidas por empresas ligadas ao suspeito, levantando a hipótese de ativos “inexistentes”. Outro lado Vorcaro e o Banco Master não responderam aos questionamentos. Sobre a prisão, defesa do banqueiro afirmou: “Advogados [de Vorcaro e do Banco Master] colocaram-se, como já haviam feito antes, à disposição para cooperar com as autoridades, prover informações, participar de audiências, inclusive com a presença de Vorcaro”. A Reag, gestora do Hans 95, também não comentou. Em comunicado divulgado à época da Operação Carbono Oculto, afirmou estar colaborando com as autoridades. Veja mais: