O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participa, neste fim de semana, da 18ª Cúpula do G20, em Nova Delhi, na Índia. No evento, o Brasil receberá do país anfitrião a presidência do grupo, pela primeira vez na história, em um contexto marcado por disputas em temas centrais: a busca por um novo olhar sobre o Sul Global, a guerra na Ucrânia e medidas de enfrentamento às mudanças climáticas.
Apesar de ser sediada na Índia, país do chamado Sul Global (nações em desenvolvimento), esta edição da cúpula ocorre sob domínio das nações ricas tradicionais, como Estados Unidos, França, Alemanha e Reino Unido. As negociações para a assinatura conjunta de uma declaração final esbarram nas agendas políticas dos países, que atuam conforme as próprias prioridades.
Lula, no entanto, espera que o Brasil possa ter relevância nas conversas como uma espécie de intermediário entre os blocos. O presidente brasileiro também pretende enfatizar pontos de sua agenda diplomática, como a pressão por mudanças na governança da Organização das Nações Unidas (ONU).
Ele quer aproveitar que, ao fim desta cúpula, o Brasil passará a presidência temporária do G20 – entre dezembro de 2023 e novembro de 2024 – para fazer os membros debaterem pontos como o financiamento dos países do Sul Global para uma transição energética ecológica.
Contudo, a adoção de metas de uso de energia renovável e possíveis limitações no uso de combustíveis fósseis são pontos de divergência entre as nações. Outro tema de inflexão entre os membros é a adoção de medidas mais contundentes para encerrar a guerra na Ucrânia.
Resistente a condenar Moscou diretamente, a China fica mais isolada nesse debate. O presidente do país, Xi Jinping, nem viaja para a Índia. Com mandado de prisão expedido pelo Tribunal de Haia, Vladimir Putin, presidente da Rússia, também não vai.
“O grande ponto de tensão será a guerra da Rússia”, avalia o cientista político e professor da Fundação Getulio Vargas, Leonardo Paz. A ausência dos dois líderes, que são grandes opositores dos EUA, e nações europeias, também contribuirá para um esvaziamento dos debates. “As promessas que poderiam ser feitas vão ter que ficar para depois”, defende.
No entanto, “dada a animosidade que existe hoje em relação ao G7 [EUA Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá] e à Rússia em relação à guerra; e à China em relação a essa rivalidade internacional, dificilmente a gente conseguiria, mesmo que eles estivessem lá, um grande compromisso sólido em qualquer tema, eu acho muito difícil neste contexto”, pondera o especialista.