O rendimento médio da população ocupada aumentou 4,3% em termos reais em um ano. No trimestre iniciado em novembro do ano passado e encerrado fevereiro deste ano, o ganho médio foi de R$ 3.110, enquanto no mesmo período há 12 meses foi de R$ 2.982. Por outro lado, a taxa de desocupação registrou um recuo acentuado, de 8,6% para 7,8%. Desse modo essa queda de 0,7 ponto percentual representa um decréscimo de 7.5% em um ano.
Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ainda de acordo com a Pnad Contínua, no trimestre encerrado em fevereiro de 2024, a taxa de desocupação apresentou variou 0,3 ponto percentual em relação aos três meses imediatamente anteriores, um fenômeno natural na transição de final para início de ano.
É o que observa a Adriana Beringuy, coordenadora de Pesquisas Domiciliares do IBGE. Segundo Adriana, o aumento da taxa de desocupação nessa época do ano está associado “ao retorno de pessoas que, eventualmente, tinham interrompido a sua busca por trabalho em dezembro e voltaram a procurar uma ocupação nos meses iniciais do ano seguinte”.
É por isso, segundo o IBGE, que o número de pessoas em busca de trabalho chegou a 8,5 milhões de pessoas em fevereiro – 332 (4,1%) a mais do que na reta final de 2023.
Ou seja, a alta na taxa de desocupação se deveu especificamente ao aumento da procura por trabalho, porque o número de pessoas que estavam trabalhando no país se manteve nos 100,2 milhões, sem apresentar variação estatisticamente significativa na comparação trimestral. Além disso, essa população ocupada está 2,2% acima do contingente registrado no mesmo trimestre móvel do ano passado (99,1 milhões de trabalhadores).
Movimentações por setor
Apesar da estabilidade geral, alguns grupamentos de atividade da Pnad Contínua do IBGE mostraram redução no contingente de pessoas ocupadas. Um deles foi a Agropecuária. Segundo Adriana, “isso pode estar ligado à redução do contingente de trabalhadores em algumas lavouras, como as culturas do milho e do café”.
A analista lembra que, no outro grupamento com redução no número de trabalhadores, a Administração Pública, saúde, educação, também há um padrão de sazonalidade: “Nesse grupamento, no final do ano ocorre a dispensa de servidores com contratos temporários de profissionais da educação básica no setor público. Esses setores voltam a contratar quando as aulas recomeçam, principalmente depois de fevereiro”.
Por outro lado, o número de pessoas ocupadas no grupamento de Transportes, Armazenagem e Correio cresceu 5,1% mesmo na comparação trimestral, o equivalente a mais 285 mil pessoas trabalhando no setor.
“Temos observado um crescimento da ocupação no transporte de carga e também na parte de armazenamento. A ocupação nas atividades que envolvem logística vinha aumentando, e isso parece ter se mantido no trimestre que analisamos”, observa Adriana Beringuy.
O número de trabalhadores com carteira de trabalho assinada também permaneceu nos 38 milhões, sem variação significativa na comparação trimestral. Adriana acredita que, no trimestre analisado, as categorias em que ocorreram as dispensas “têm predomínio de trabalhadores informais. Isso ajudou a manter estável o contingente de empregados com carteira assinada”.
Rendimento do trabalho segue em alta
Já na avaliação do rendimento médio das pessoas ocupadas, a coordenadora acredita que as atividades que envolvem os profissionais do setor de alojamento e alimentação ficaram aquecidas nos meses de dezembro a fevereiro, “mesmo para os trabalhadores informais do setor, contribuindo para essa alta da renda”.
No caso do rendimento do setor de Administração Pública saúde educação, Adriana lembra que houve dispensa de trabalhadores temporários da área de Educação pública. “Como esses trabalhadores temporários, principalmente de escolas municipais, têm rendimentos menores, isso pode ter contribuído para que aumentasse a média dos rendimentos nesse grupamento de atividade”.
Desalento
O número de pessoas desalentadas chegou a 3,7 milhões de pessoas, com alta de 8,7% na comparação trimestral, o equivalente a mais 293 mil pessoas nessa condição. Foi a primeira alta desse contingente desde o trimestre móvel encerrado em abril de 2021, quando o número de pessoas desalentadas chegou a 5,9 milhões, durante a pandemia de Covid 19.
Mais sobre a pesquisa
A Pnad Contínua é o principal instrumento para monitoramento da força de trabalho no país. A amostra da pesquisa por trimestre no Brasil corresponde a 211 mil domicílios pesquisados. Cerca de 2 mil entrevistadores trabalham na pesquisa, em 26 estados e Distrito Federal, integrados à rede de coleta de mais de 500 agências do IBGE.
A diferença estatística entre a pesquisa do IBGE e o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego está não apenas na metodologia, mas também no objeto. Isso porque a taxa de desemprego da Pnad apura, por amostragem, o contingente de pessoas que afirma estar a procura de ocupação – formal ou não.
Por sua vez, o Caged é composto de informações enviadas por empregadores de todo o territorial nacional, aferindo a diferença entre dispensas e contratações. No mês de fevereiro, por exemplo, o Caged registrou 2.249.070 admissões com carteira assinada e 1.942.959 desligamentos. Na soma de janeiro e fevereiro, o saldo positivo acumulado é de 474.614 postos de trabalho formais.
Em função da pandemia de Covid-19, o IBGE implementou a coleta de informações da pesquisa por telefone a partir de 17 de março de 2020. Em julho de 2021, houve a volta da coleta de forma presencial. É possível confirmar a identidade do entrevistador no site Respondendo ao IBGE ou via Central de atendimento (0800 721 8181), conferindo a matrícula, RG ou CPF do entrevistador, dados que podem ser solicitados pelo informante.
Consulte os dados da Pnad no Sidra . A próxima divulgação da PNAD Contínua Mensal, referente ao trimestre encerrado em março, será no dia 30 de abril.
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