Aos 11 anos, Riverton Francisco de Souza se viu literalmente sozinho no mundo. Filho de uma empregada doméstica, mãe solo, com apenas 16 anos, o garoto foi adotado pelos patrões da jovem aos 3 anos de idade.
“Minha mãe foi atrás do meu pai, em Cáceres (MT). Essa família onde minha mãe trabalhava ficou preocupada comigo. Como eles tinha um compromisso em Cuiabá, decidiram esticar a viagem para me achar. Me encontraram desnutrido e com muita fome. Comi um pacote de bolacha de água e sal com Danoninho em minutos. Eles pediram minha guarda e foram meus pais”, relembra.
Aos 9 anos, o pai adotivo, Arlindo Barbosa de Souza, morreu tragicamente em um acidente. Poucos anos depois, quando Riverton tinha 11 anos, a mãe adotiva, Adelina Rodrigues de Souza, faleceu em decorrência de uma infecção após um procedimento cirúrgico.
Deixado sozinho em uma casa, o garoto buscou ajuda e foi parar no Conselho Tutelar. “Tive três perdas: minha mãe biológica e meus pais adotivos. Foi um dos piores momentos da minha vida. Ninguém me queria. Ali me senti sozinho. Estava no fundo do poço”, conta.
O pré-adolescente foi apresentado à antiga Casa Dom Bosco, que ficava em frente à Praça do Rádio Clube e era mantida pelos padres salesianos. A assistente social Silvia Peixoto de Lima, 58 anos, recebeu o menino de olhar angustiado, mas que segundo ela, queria dar o melhor de si. “Isso me marcou muito”, conta Silvia, que hoje é amiga de Riverton. Ele carinhosamente ainda chama ela de “tia”.
Apesar de não ter o perfil de criança vulnerável, era o único lugar que a criança teria a certeza de uma cama, quatro refeições e educação. “Pra mim estava bom. Mas eu chorava todas as noites. Pensava que eu ia provar que tinha meu valor e lembrava da minha mãe [adotiva], que ela dizia que sabia que eu ia dar certo na vida. Só tinha isso na minha cabeça”, ressalta.
Ele cresceu com meninos que usavam drogas, tinham sido vítimas de maus-tratos, estupros e até cometido crimes. Para Riverton, todos foram seus irmãos enquanto morou no local, dos 11 aos 19 anos.
Até hoje, aquele menino que hoje tem 43 anos afirma não saber como deu certo na vida. “Me ofereceram drogas, as pessoas viraram as costas para mim. Mas a vida ficou comigo. Eu tinha muito medo de dar errado e só queria terminar o dia. Não sabia mais o que fazer, além de esperar o dia acabar. Porque toda vez era uma surpresa negativa pra minha idade”, lamenta.
Durante toda a adolescência, padres, “tios” da Casa Dom Bosco e professores ajudaram na formação do garoto órfão. Com 16 anos ele chegou a encontrar a mãe biológica, hoje bem próxima dele. Mas jamais quis deixar o ‘seu castelo’, por medo de ser abandonado outra vez.
Riverton é categórico ao dizer que a educação, literalmente, salvou a vida dele. “Meus professores foram minha referência. Lembro que o padre Carlos colocou a mão no meu ombro e falou que tinha o sonho de que um dos meninos fosse professor. Eu tinha bom comportamento e eles me ajudaram com bolsa para a faculdade”.
Apaixonado por esportes, ele se formou em Educação Física na Fifasul (Faculdades Integradas de Fátima do Sul). Depois, voltou para Campo Grande por conta dos “irmãos” do orfanato, que ele chama de família. Riverton se tornou professor ativo na rede de educação pública e privada. Entrou para a política em 2016 e perdeu a eleição para vereador. Mas é atual dono de uma das 29 cadeiras da Câmara Municipal, após conseguir 3.987 votos na eleição de 2020.
“Estou nesse mandato, mas ele é muito pequeno perto do meu diploma de nível superior. Só 20% da população alcança isso, e eu ainda entro naquele fim do fim do percentual. Ainda fico me perguntando, por que eu? Nunca imaginei nada disso”, revela.
Sempre com sorriso no rosto, o vereador diz que costuma reproduzir tudo que aprendeu com os seus mestres. Hoje é casado e tem dois filhos, um de 16 anos e outro de seis meses. Além de ser político, também tem se dedicado a um programa de rádio aos domingos. Se identifica como “Professor” Riverton e acredita no poder revolucionário da educação.
*com informações de Campo Grande News